quarta-feira, 22 de setembro de 2010



O Jornal Boca de Rua é uma publicação feita e vendida por pessoas em situação de rua da cidade de Porto Alegre desde 1999. Textos, fotos e ilustrações são elaborados pelos sem teto durante as oficinas semanais. Apesar do trabalho ser orientado jornalistas, apenas a edição e a diagramação é executada por profissionais de comunicação. O dinheiro arrecadado na comercialização do veículo reverte integralmente para os integrantes do grupo, constituindo uma fonte alternativa de renda. A equipe é composta por 30 adultos e 15 crianças e adolescentes. Os menores de 18 anos participam de oficinas lúdicas e educativas (brincadeiras, texto, teatro, artesanato, malabarismo e música, entre outras) que geram um encarte especial – o Boquinha. Seus pais ou responsáveis recebem uma ajuda de custo semanal. Todo o trabalho conta com a colaboração de uma equipe multidisciplinar formada educadores e psicólogos.

"A proposta do Boca de Rua é diferente: é dar voz a quem não tem. Nossa meta é conferir cidadania aos moradores de rua, por meio de um projeto de comunicação", afirma Rosina Duarte que, juntamente com Clarinha Glock e Eliane Brum, criaram o Boca de Rua no ano de 2000. As jornalistas são responsáveis pela reuniões semanais de pauta e pela edição final do jornal. Boa parte da finalização consiste na transposição da linguagem oral para a escrita, já que a maioria dos 35 moradores de rua que produzem o conteúdo do jornal, é analfabeta. O tema de cada edição, as reportagens, fotografias e ilustrações são discutidos e produzidos pelos moradores de rua, que também escolheram o nome e o logotipo do jornal.

A experiência do Boca de Rua permite, assim, lembrar uma faceta pouco discutida a respeito dos moradores de rua: a sua exclusão cultural. "A exclusão cultural e a material não devem ser concebidas de modo isolado, pois são simultâneas. Buscar a integração social dos moradores de rua fornecendo-lhes apenas a alternativa para a sobrevivência econômica - ou comida e abrigo - é importante, porém insuficiente. Essas pessoas procuram, como quaisquer outras, um sentido para a sua existência e só por meio da cultura é que essa busca se faz possível", afirma a antropóloga Cláudia Magni, da Universidade de Santa Cruz do Sul (RS).

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